ALMA - PR

Doze pessoas de nove estados diferentes falando a mesma língua: o vídeo Griô. Mas, claro, com sotaques diferentes.

Colaborar com o vídeo do próximo traz um desapego benéfico ao seu próprio vídeo. As primeiras apresentações de idéias foram de Peinha, da Paraíba, que contou a história de sua comunidade Quilombola. A história foi tão ampla que naquele momento não ousamos delinear o roteiro. Logo depois, Delvan contou a história de Remanso, também uma comunidade Quilombola próxima de Lençóis. É incrível como essas comunidades possuem uma história oral forte e longa. Dá a impressão que construir o roteiro de um minuto e meio será tarefa árdua e um teste de desapego.

Cada um contou a história de seu mestre Griô e o que pensou inicialmente para o vídeo. Idéias jogadas ao vento para serem desenvolvidas ao longo da semana. Não imaginamos que esse primeiro contato naturalmente iria ajudar muito na objetividade do roteiro.

À noite, nos reuníamos para comer água* e passear por Lençóis. Falar sobre Giga, Megabyte, lentes e formatos viravam piadas. Lembro das madrugadas que fiquei sozinha no computador, pesquisando em fóruns sobre equipamentos, formatos e outros detalhes audiovisuais. Uma noite, estávamos sentados em uma mesa redonda, cada um com o seu computador, pesquisando a mesma coisa e ajudando um ao outro a listar equipamentos. Como é bom ver essa identificação.

Leandro Saraiva, nosso facilitador de roteiro, já havia sido um dos colaboradores do Ponto Brasil, projeto que reuniu dezenas de pontos de cultura para produzir um único programa, com a metodologia do roteiro colaborativo, feito pela internet e por reuniões no skype. Esta foi uma ação que gerou resultados super legais, sem contar que o processo foi o mais marcante. A AlmA participou, produziu dois vídeos e, desde lá, sou simpática a essa forma de fazer cinema: Coletivamente e colaborativamente.

Leandro exibiu muitos vídeos bacanas como “Pirinop”, feito pelos índios Ikpeng no projeto “Video nas aldeias”. O vídeo foi produzido pelos próprios índios e mostra imagens deles encenando o momento que perderam suas terras e assistindo as cenas durante a noite, com todos reunidos em frente ao telão. “Vamos ter que refazer essa cena, você não mostrou medo”, “Preciso tirar a havaiana”, frases ditas pelos índios enquanto assistiam as gravações.

E Leandro trouxe Jean Rouch: descobri este cineasta que não sei como até hoje não conhecia. Para mim, o vídeo sempre teve valor antropológico e os filmes de Jean Rouch se tornaram referência. “Mestres loucos”, “Eu, negro” e “Crônica de um verão”, especialmente a cena em que a personagem relata sua experiência nos campos de concentração nazistas enquanto caminha pela Praça da Concórdia e estação de trem Garedunort.

No momento de escrever os roteiros, as idéias amplas se tornaram cenas, costuras e planos criativos. Ficamos surpresos como essas questões foram facilmente discutidas e resolvidas, em questões de produção e narração.

Foram seis dias de integração, respeito, ajuda e aprendizado. Agora voltamos cada um a sua terra para concretizar o que já vemos com os olhos fechados. O filme já está pronto, só falta filmar! Nos vemos daqui duas semanas, na edição e finalização.

Irrrrrrrrrrriiiiiiiiiieeeeeeeeeeeeeeeeeee